quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DE UMA RÁDIO PÚBLICA(2)

Prossigo o exercício de construir um canal de serviço público, discutindo um dos elementos de base: a caracterização do auditório. Como disse no primeiro artigo da série, o resultado que se pretende é apenas " uma hipótese" e os ingredientes usados na receita são reais.
O estudo das audiências ocupa um lugar privilegiado nas teorias da "comunicação social". A literatura da área indica-nos que a valorização da audiência surge como superação e desenvolvimento dentro da communications research ( Wolf, 1985: 26) protagonizados, por exemplo, por um Lasswell ( 1948) que já se concentra nos efeitos e nos conteúdos, deixando para trás a perspectiva hipodérmica. O desenvolvimento do interesse sobre os efeitos leva a uma investigação mais aprofundada sobre a audiência, ora tomando-a como um universo compacto, uniforme, inanimado, ora progredindo em análise mais "atomizada", centrando mais no indivíduo; ora elegendo como núcleo de atenção as " massas dinâmicas" dentro da chamada indústria cultural ( Adorno, 1951: 3). O grande debate que se levanta então é sobre a caracterização do auditório, sua dinâmica interna e relacionamento com os media.
Para compreendermos o relacionamento entre o auditório e o media, tal como Meditsch ( 1999: 85) assumimos que a mediação do público ( auditório) está presente não apenas na etapa posterior à emissão, mas também numa etapa anterior, como a intencionalidade que a orienta.
No contexto de Rádio de Serviço Público esta mediação do público exibe três estágios, os quais agem simultaneamente sobre o esforço de desenho da programação: a) O Público, como cidadão; b)Competências dos gestores e decisores;c) dinâmica da sociedade.
O Público como cidadão: Nesta qualidade, a Constituição da República, a Lei de Imprensa, o Governo do dia e os Estatutos/mandato do SPR, configurados pela atitude do cidadão-povo, já definem com algum rigor, através da prescrição de perfil, objectivos " política linguística", o fram-work da programação. Competirá posteriormente aos gestores do serviço publico definirem uma estratégia que será aplicada pelos decisores e gestores do canal.
Competências dos gestores do canal: muitas vezes os gestores do canal baseiam as decisões na experiência ( saber fazer). O conhecimento daí obtido poucas vezes é pigmentado ou estruturado com base em análise de estudos de audiências ou outros conhecimentos científicos. A competência técnica individual substitui objectivos institucionais e o feed-back do auditório.
Dinâmica social:Os acontecimentos protagonizadas ou que envolvem as audiências interferem na consumação de uma programação. Este elemento é, portanto, circunstancial, mas condiciona continuamente as decisões dos gestores do canal. ( continua)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

EMISSÕES REGIONAIS E BOLSAS LINGUÍSTICAS(4)

No último artigo analisamos a qualidade do sinal do Emissor Provincial da Rádio Moçambique- Nampula entre esta cidade e Pemba( capital da Província de Cabo Delgado). Na mesma ocasião, fizemos o contraste com o sinal de outros emissores provinciais que são nos mesmos locais sintonizados. Isto, como sabemos, na esteira de percebermos como deve a Rádio Moçambique lidar com o facto de uma determinada comunidade não conseguir sintonizar o " seu emissor provincial" ou a língua de tal comunidade não estar a ser usada no emissor provincial respectivo. Antes de lançar algumas hipóteses que conduzam a nossa discussão, vamos fazer uma breve visita à distribuição das línguas Moçambicanas pelos Emissores Provinciais, apalpando igualmente os contextos de estabelecimento de tal prática ou "política".
Como consequência de um interessante debate interno realizado por quadros da Rádio Moçambique, uma consultoria técnica, contratada pela Rádio Moçambique ( realizada pelos linguistas Bento Sitói, Julieta langa e Aurélio Zacarias Simango), em 1995, apresentou várias recomendações das quais vamos destacar as que se relacionam com a distribuição das línguas, o que assim se pode apresentar, menos o português:
atenção, siga a seguinte "Legenda"
Línguas usadas antes de 1997( em vermelho)
línguas usadas depois de 1997( em azul)

Niassa: CiYao; CNyanja;Emakhuwa C.Delgado: Shimakonde;Kiswahil;Emakhuwa;Kimwani ; Zambézia: Echuabo;Elomwe ; Nampula: Emakhuwa Tete: CiNyanja;CiNyungwe ; Sofala: CiSena; CiNdau; Manica: CiUtee; CiManyika;Cibarwe; Inhambane: XiTswa; CiCopi;GiTonga; Gaza:XiChangana; CiCopi; Maputo( desdobrou o XiTsonga em XiRonga e XiChangana)

Neste momento, em 2008, este quadro mantem-se válido. Nota importante é o facto de o emissor de Gaza ter iniciado emissões próprias apenas em 2002 (usando as línguas recomendadas pela consultoria já citada). Noutros termos, a Rádio Moçambique seguiu à risca as recomendações estabelecidas à excepção do seguinte: não introduziu a língua Sena ( Zambézia e Manica) e o Emakhuwa na Zambézia. Pois, ainda que de forma não firme, a língua sena já é utilizada no Emissor Provincial de Tete. E, fora de todas as conjecturas, o Emissor Provincial de Inhambane transmite um serviço mínimo em Ndau ( tal e qual o sena em Tete). A pergunta que fica no ar é: a Rádio Moçambique vai ou não introduzir as línguas recomendadas ( incluindo a utilização mais esclarecida do sena em Tete)? Caso não o faça, que razões estarão a condicionar tal (falta de) decisão ? ( continua)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

TV- CHAT


Nos últimos anos o chat tem conquistado continuamente mais e mais adeptos à medida que o computador e a internet vão consolidando o seu reinado nos hábitos das pessoas. Aliás, muitos especialistas vão mesmo demonstrando que o chat é o factor mais viciante no computador. E nisso não há idade nem classe social que escape. para estarmos a conversar sobre as mesmas coisas, fui ao site da Porto Editora e trouxe esta bela e exacta definição de Chat: nome masculino; forma de comunicação à distância em tempo real, por meio de computadores ligados à Internet. (Do ing. chat, «id.»)
No nosso país, onde o computador e a Internet ainda são para uma minoria urbana ou urbanizada, e aproveitando o boom que a televisão está a registar, os engenheiros do negócio estabeleceram um paralelismo entre estes dois media ( televisão e computador) e tiraram o chat do computador para a tela da televisão. Foi assim que de uma assentada a TVM, A TVMiramar, a STV e a KTV inauguraram o negócio do chat. Hoje, pouco mais de 24 meses da febre do TV-Chat, apenas a KTV e a TVM mantém o negócio. Não tenho conseguido ver os chats da STV, da TVMiramar e da TIM.

RASTAFARI ( fim)

Alguns leitores do blog tem-me perguntado quando retomo ou concluo a série de artigos sobre os rasta. Em boa verdade, o terceiro artigo é o último. Deveria ter indicado isso claramente aquando da postagem do artigo número três. Já agora, vou também contextualizar a produção dos artigos e justificar a postagem.
A peça sobre os Rastafari escrevi-a em 1994 após regressar de uma viagem a Harare ( capital do Zimbabwe). E publiquei-a num jornal da praça do qual era colaborador. Assim, do meu maltratado arquivo, resgatei uma parte substancial do artigo. Voltando à viagem, nela pude conviver mais profundamente com uma comunidade rasta. Tinha sido a primeira vez que o fazia.
A foto que ilustra este texto é do meu colega e amigo Eduardo Tocoloa. Locutor da Rádio Moçambique, Lichinga ( capital da província de Niassa). Mostrei-lhe os artigos. leu e gostou. Ele esclareceu-me que era rasta. E que apenas seguia o básico. Nomeadamente, a aparência e, o mais importante, segundo ele, o pacifismo: nada de violência e desonestidade.
Gostei.


sexta-feira, 28 de novembro de 2008

ORGANIZAÇÃO E ESTRUTURA DE UMA RÁDIO PÚBLICA

Pretendo iniciar uma digressão arrojada e longa pelo universo da teorização sobre o SPR ( serviço Público de Radiodifusão) . Para começar, um aperitivo, brindo-vos com umas largas e apressadas pinceladas sobre o assunto. Trata-se de um texto no qual construo os fundamentos para uma hipotética rádio pública. A simulação tem como cenário Moçambique. Os dados utilizadas são, contudo, reais.
Mais especificamente, vamos tratar da rádio pública, procurando apresentar uma proposta de modelo de organização e estruturação. Importa, num primeiro momento, estabilizar dois conceitos que, a nosso ver, tem sido tratados de forma "flexível": serviço público de radiodifusão (SPR) e Rádio Pública. Aqui , e muito rapidamente, importa estabelecer que SPR é uma construção hiperonímica que pode desencadear e cobre uma determinada realidade, por exemplo, e no nosso caso, Rádio Pública. Assim, utilizaremos Rádio Pública no sentido de canal.
A partir daqui fica claro que quando se fala, por exemplo, de sustentabilidade financeira de uma Rádio Pública ou Canal de Rádio de Serviço Público detido por um SPR, não se está a imputar o ónus disso ao canal , uma vez que o canal em causa apenas concretiza um serviço muito específico de radiodifusão: uma emissão de " serviço público". Noutros termos, o serviço público que é constituído através de uma empresa ( pública) é que deve providenciar a sua sustentabilidade financeira. Olhando para a nossa realidade, significa que o canal de serviço público por excelência em Moçambique ( Antena Nacional e Emissores Provinciais da Rádio Moçambique- Empresa Pública) não tem como missão primária e exclusiva auto-financiar-se. A Empresa "Rádio Moçambique-EP" é que tem tal função. Finda esta pequena digressão por algo aparentemente marginal voltemos à construção da nossa hipotética rádio pública, analisando as questões relativas à audiência. A quem se destina a Rádio? Quem a ouve?
I. o auditório
Vamos considerar três aspectos: a) peso do auditório na programação; b) identificação do auditório; c) línguas de comunicação. Destes três aspectos, o comandante é a identificação do auditório. Este aspecto corresponde à uma formulação teórica, geral, enquadrada nos estudos sobre a audiência e na sua relação com os conteúdos. Por outro lado, a identificação do auditório está relacionada com os decisores num determinado meio sócio-geográfico e histórico. Ou seja, antes de analisar o peso do auditório ( alínea a) numa programação, exige o rigor metodológico que discutamos previamente, pelo menos, quem é esse auditório.(continua)
Nota:
A bibliografia será apresentada no fim.

PONTE SAMORA MACHEL
















A ponte Samora Machel tem tudo para ser famosa. Pelos melhores motivos. Deve o seu nome a uma personalidade muito querida a muita boa gente; atravessa um dos maiores e dos mais famosos rios de África. Une as duas partes da cidade de Tete, a mais quente das cidades moçambicanas. Ultimamente, porém, a ponte tem sido notícia pelos piores motivos: há registos frequentes de suportes da ponte que rebentam. E enquanto não se tomam medidas mais sérias, paliativos vão sendo aplicados. De entre os quais, a colocação de suportes alternativos. Veja-se a sequência de fotos que se seguem.Frescas da semana passada.

0,5 DIAS DO MÊS SÃO 15 DIAS?


Perguntei a duas pessoas como interpretavam o vírgula 5 do 5 Meses da placa de informação na foto. A resposta veio rápida e segura: o ,5 significa metade do mês. Ou seja, deve-se ler assim: Prazo de execução: 5 meses e meio ( significando o meio 15 dias e não meio dia). ambas pessoas riram-se meio intrigadas com o facto.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

RÁDIO MUTHIYANA DE NOVO NO AR (93.5 FM)


Como reportei há três semanas, a Rádio Muthiyana ( bairro Ferroviário, cidade de Maputo) foi assaltada. Por haver ficado sem equipamento de estúdios, a rádio deixou de estar no ar. Por pouco tempo, porém, uma vez que foi possível obter um equipamento alternativo. Bastante modesto. Mas o suficiente para voltar a ter as emissões no ar.

Visitei o os estúdios da Rádio assaltada e vi o equipamento alternativo. Trata-se de equipamento básico ( leitor, misturador) montado numa mala. Pelo que apurei, trata-se de equipamento da rádio Feba.

Por razões de segurança, e para evitar novo roubo, o dito equipamento é levado à Rádio Muthiyana logo pela manhã. A emissão abre às seis horas da manhã e fecha ao princípio da noite. Nessa altura é novamente desmontado e guardado em sítio seguro(x).

tronco de baobá-IMBONDEIRO (Malambe) em Matema TETE




domingo, 23 de novembro de 2008

EMISSÕES REGIONAIS E BOLSAS LINGUÍSTICAS(3)


QUE TRATAMENTO DEVE A RÁDIO MOÇAMBIQUE (RM-EP) CONFERIR À SITUAÇÃO EM QUE UMA DETERMINADA COMUNIDADE/REGIÃO DE UMA PROVÍNCIA NÃO CONSEGUE SINTONIZAR O "SEU" EMISSOR PROVINCIAL?

ANÁLISE DE CASO
# Qualidade do sinal do emissor provincial de Nampula em Namapa#

Dados geográficos. Namapa é um distrito da província de Nampula e localiza-se no percurso entre Nampula e Pemba. Dista cerca de 220 km de Nampula, quase a meio caminho entre Nampula e Pemba.
Para aferirmos a qualidade da recepção do sinal dos Emissores Provinciais de Nampula ( e Cabo Delgado, contrastivamente), empreedemos uma viagem terrestre entre as cidades de Nampula e Pemba ( capital da província de Cabo Delgado, norte de Moçambique), tendo pernoitado em Erati ( sede de Namapa) e Chiúre.Influenciaram a nossa decisão o facto de termos acesso a um volume regular de informações sobre a qualidade de recepção das emissões da Rádio Moçambique naquele local bem como facilidade logísticas de deslocação e acomodação. Também tivemos em conta o continuum linguístico da zona ( o sul de cabo Delgado e a totalidade de Nampula são comunidades nativamente falantes do que genericamente designaríamos Emakhuwa).
Em Namapa, ouvintes contactados ( entrevistas individuais e grupos) afirmaram reconhecer e escutar as emissões do Emissor Provincial de Nampula em Onda Média. informaram que as condições de recepção são relativamente melhores nos períodos nocturnos e princípios da manhã e da noite. Durante o dia solar afirmaram ser " quase impossível" sintonizar a emissão. Na tentativa de o fazer, amarravam um cabo eléctrico ou arame à antena do receptor de rádio ou deslocavam o aparelho de rádio continuamente procurando um ponto onde melhor se escutasse. solicitados a avaliar a qualidade de recepção do sinal entre excelente/boa/razoável/má, indicaram esta última.
#Qualidade de recepção do sinal do Emissor Provincial de Nampula ao longo da via Nampula-Pemba#

Namialo ( 80 km de nampula): razoável
Namapa ( 220 km de Nampula): má
Chiúre ( 340 km de Nampula): razoável
Pemba( 438 Km de Nampula): razoável
Por seu turno, o sinal do Emissor Provincial de Cabo Delgado apresentava boa qualidade de recepção nos mesmos pontos. Com a mesma qualidade escutavam-se os emissores de Manica, Tete e Sofala.Aliás, ao longo desse "corredor" estes três emissores eram escutados com relativa nitidez em Namialo ( 80 km de Nampula) e Chiúre (cerca de 240 km de Nampula).
Contactados os técnicos da Rádio Moçambique, muitas foram as razões apontadas para explicar o cenário. Avultam o estado técnico do emissor em estudo ou a sua localização .
Diante deste quadro, o investigador enfrenta a seguinte questão: como fazer chegar o sinal do Emissor provincial de Nampula a Namapa caso não haja como induzir esse resultado do ponto de vista da qualidade ou potência do emissor de 50 kw em onda média?

Nota

Nas jornadas de Linguística de 2001 ( actualmente designadas por Jornadas de Radiodifusao), evento académico-científico que é organizado pela Rádio Moçambique por ocasião do seu aniversario ( 2 de Outubro), apresentei o resultado de um estudo que fiz no ano 2000. O estudo em causa visava compreender os contornos de uma ideia e uma experiência relacionadas com a realização e transmissão simultâneas de um programa de rádio, em línguas moçambicanas, por equipas em províncias diferentes.


CONTINUA

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

CASA VELHA-NIASSA


CASA VELHA-MAPUTO


Deixo aqui duas fotos que muito me tocam. São imagens das sedes da Casa Velha de Maputo e do Niassa. As fotos foram feitas nas duas últimas semanas.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

NA TERRA DO REI


Para quem atravessa a cidade de Xai-Xai ( capital da Província de Gaza, sul de Moçambique), do lado esquerdo no sentido norte-sul, não deixa de ser curiosa esta imagem. Ouvi dizer que a figura faz parte da "imagem" do talho que funcionará ali.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

RASTAFARI (3)



Evolução
O Rastafarianismo nasceu nos anos 30, na Jamaica, na esteira de reivindicações negritudistas nos Estados unidos e mais tarde na Jamaica. No início, foram principalmente pessoas da classe social muito pobre que adoptaram o rastafarianismo. Entre os mais destacados pioneiros avultam os nomes de Marcus Garvey e Leonard Howell. Aliás, alguma literatura refere mesmo que terá sido Marcus Garvey quem terá pré-anunciado a coração de Haillé Selassié, com as seguintes palavras: “: "Olhem para Leste, para Àfrica, onde um negro será coroado Rei." E assim foi, a 2 de Novembro de 1930, Ras Tafari Makonnen, foi coroado Rei, alegando descendência do Rei Salomão de Jerusálem e da Rainha Makeda de heba. Adoptou o nome de Haile Selassie I ("o poder da divina trindade") e foi designado 225º Imperador da dinastia Salomonica, Eleito de Deus, Rei dos Reis, Senhores dos Senhores, Leão Conquistador da Tribo de Juda. É assim que para muitos seguidores do movimento Rasta, Margus Garvey é tido como profeta.
O Movimento Rasta foi fortificando-se significativamente ganhando ao mesmo tempo alguma estabilidade. Com a visita de Haille Selassie a Jamaica em 1966 o movimento ganhou um impulso notável. Porém, nos meados dos anos 70, registou-se uma acentuada regressão, muito por culpa da morte de Selassie em 1975. Pensava-se, então, que seria o fim dos Rasta. No entanto, poucos meses depois, estourava nas paradas jamaicanas a canção de Bob Marley que “jah live” ( Desus está vivo) contragolpeando com estes versos:"Os imbecis dizem no seu coração / Rasta, o teu Deus está morto / Mas nós sabemos / Os dreads serão dreads hoje e sempre / Jah está vivo". A profecia de Bob Marley estava certa. Rapidamente, a música e o artista ganharam forte projecção e com eles ganhou o movimento. Foi a sua popularização, a sua consagração junto, principalmente, às massas humildes. Cedo passou-se a considerar o reggae a música dos oprimidos.
A rasta
Uma das principais características dos RastaFarianos são os cabelos trançados em anéis, os entrelaçados e a barba farta. Tal prática, como muitos pensam, não é originariamente jamaicana. Ela foi aproveitada de fotografias de alguns povos da África Oriental que usavam cabelo entrelaçado. Este hábito generalizou-se entre as comunidades Rasta na Jamaica por volta dos anos 30, passando em pouco tempo a ser uma das marcas mais identificativas dos membros do movimento. O cabelo, quando entrelaçado, recebe na gíria rasta várias designações: Janks, Nats, Lock, Dread, Bongo, entre outras.
No finzinho desta parte, vale a pena recordar algumas regras rasta. Estas regras tem raiz no pensamento de Marcus Garvey, Leonard Howell e Haillé Selassiè.
I. Segundo consta, Garvey, durante uma missa, terá dito
Temos fortes objecções em relação a alterações agudas da figura do ser humano, corte e escovamento [do cabelo], tatuagem da pele, cortes da carne.

2.Somos basicamente vegetarianos, dando uso escasso a certas peles animais, ainda assim proibindo o uso de carnes suínas de qualquer forma, peixes de concha, peixes sem escamas, caracóis, etc.

3.Adoramos e aceitamos mais nenhum Deus além de Rastafari, proibindo todas as outras formas de adoração pagã, apesar de as respeitarmos.

4.Amamos e respeitamos a irmandade da humanidade.

5.Desaprovamos e abolimos completamente o ódio, ciúmes, inveja, engano, fraude e traição, etc...

6.Não aprovamos os prazeres da sociedade moderna e os seus males correntes.

7.Temos a obrigação de criar uma nova ordem mundial de uma irmandade.

8.O nosso dever é expandir a mão da caridade a qualquer irmão/irmã que esteja em dificuldade, primeiramente aos que sejam Rastafarianos e só depois a qualquer humano, animal, planta, etc...

9.Somos aderentes das antigas leis da Etiópia.

Rádio muthiyana ( cidade de Maputo) sem voz


A Rádio Muthiyana foi assaltada esta madrugada. Os assaltantes roubaram (equipamento de) dois estúdios. Assim, hoje a rádio não está no ar. E não estará até que haja estúdios. A Polícia foi comunicada. Na foto de Baixo, locutores e jornalistas da rádio muthiyana. Vê-se também uma agente da polícia. Na foto deste texto, deixo ver uma panorâmica do exterior da rádio. no centro está Olímpia Matimula, chefe da Redacção. A rádio Muthyiana localiza-se no Bairro ferroviário e iniciou as suas transmissões em 2001. Pertence a associação das mulheres jornalistas.

Rádio muthiyana calada ( cidade de Maputo)


domingo, 2 de novembro de 2008

EMISSÕES REGIONAIS E BOLSAS LINGUÍSTICAS (2)

QUE TRATAMENTO DEVE A RÁDIO MOÇAMBIQUE (RM-EP) CONFERIR À SITUAÇÃO EM QUE UMA DETERMINADA COMUNIDADE/REGIÃO DE UMA PROVÍNCIA NÃO CONSEGUE SINTONIZAR O "SEU" EMISSOR PROVINCIAL?

Para melhor respondermos à esta questão deveremos primeiro caracterizar o sistema de radiodifusão envolvendo as emissoras provinciais. em momento próprio faremos o estudo de um caso específico.
1. As emissões provinciais em Onda Média
A partir de 1996 a RM-EP iniciou a substituição de emissores velhos de Onda Média. Neste processo foram abrangidos os emissores de Onda Média em todas as províncias onde já existiam emissões locais.Zambézia foi a primeira província, em 1996, tendo culminado com Niassa, a 7 de Julho de 2001.
O Processo abrangeu a montagem de novos emissores de 50 KW nos emissores provinciais que já possuíam emissões próprias.Ficou de parte a província de Gaza que até então beneficiava-se das emissões transmitidas através do Emissor Interprovincial de Maputo e Gaza( EIMG). Gaza passaria na esteira deste processo a dispor de uma emissão própria também com um emissor de 50 KW. O que significa que neste momento cada uma das 10 províncias de Moçambique dispõe de uma emissão local transmitida através de um emissor de 50 KW.
2.constrangimentos à cobertura
a)natureza do sinal
Documentação diversa indica-nos que o total acumulado da potência dos emissores em Onda Média bem como a da rede em FM para retransmissão do sinal da Antena Nacional ( serviço nacional 24 horas em língua portuguesa), alguns canais especializados ( Rádio Cidade, Canal de desporto, serviço em língua inglesa e algumas emissões provinciais) é suficiente para cobrir a totalidade do território nacional e parte dos países vizinhos, no período nocturno, e muito próximo disso durante o dia solar. Esta variação está relacionada com a natureza da expansão do sinal do sinal em Onda Média que é afectada pela irradiação solar. Por conseguinte, na ausência deste factor, a transmissão do sinal é muito mais efectiva.
b) Limites geográficos
uma olhadela ao mapa do nosso País recorda-nos as irregularidades do seu espaço, lembrando um fulano com a cabeça pequenita e a parte da cintura para baixo grande. Isto se virarmos o mapa para baixo. Para vermos como esta questão interfere na cobertura, fiquemos com o seguinte exemplo: se tivermos dois emissores de igual potência colocados nos dois extremos do país ( num ponto onde o país é estreito e outro onde é mais largo), veremos claramente que a maior parte do sinal do emissor colocado na parte estreita do país "perde-se" para os países vizinhos, enquanto o sinal do outro emissor colocado na parte avantajada do país há-de ser manifestamente insuficiente para cobrir a região em seu redor dentro do território desejado.
c) Localização do emissor versus mapa etno-linguístico
Esta é a situação mais preocupante. Como se sabe (1) as fronteiras políticas no nosso continente não atendem as características etno-culturais-linguísticos dos nossos povos. (2) por outras razões, incluindo as de herança, a divisão administrativa do país tem a mesma característica. Quer dizer, uma determinada comunidade etno-linguística não está confinada numa só província. Ela existe em diversas províncias, representando, em qualquer uma delas um valor e uma expressão própria. Assim, há emissores que estão localizados num dos extremos da Província, não sendo devidamente escutados num outro extremo e perdendo-se o seu sinal para outras províncias, que se calhar não falam as línguas transmitidas ou já são suficientemente cobertas pelo seu próprio emissor provincial. Por exemplo: O emissor de Inhambane, instalado no sul da Província é mal sintonizado no norte do seu território que, entretanto, tem mais facilidade de captar o emissor de Sofala ou Manica.
Também verificam-se situações em que determinada língua não é utilizada num determinado emissor provincial quando na província há uma comunidade etno-linguística da língua em questão. Ou vice-versa. os emissores provinciais de Tete e Zambézia não transmitem a língua sena, embora se registem comunidades expressivas desta língua nos seus territórios.
d) disposição topográfica e estado do tempo
É sobejamente sabido que a disposição topográfica e o estado do tempo influem na propagação do sinal de rádio. As montanhas, a nebulosidade, as descargas electromagnéticas, por exemplo.
Resumindo
A instalação de novos emissores de 50 KW nos emissores provinciais da RM-EP significou a disponibilização do sinal, porém, a cobertura/satisfação não é proporcional pois é condicionada por múltiplos factores, tais como os que acabamos de visitar, resultando em, portanto, comunidades com:
  • sinal, mas sem a língua apropriada;
  • sinal e línguas desejados e apropriados;
  • sinal não desejado/apropriado
  • etc

( continua)

RASTAFARI (2)


O surgimento dos RASTA está ligado aos movimentos africanistas que se deram na América nos princípios do século passado. No período colonial, os descendentes dos escravos africanos nas américas propunham-se organizar um regresso de todos os negros à África. Todavia, o poder colonial dificultou este movimento. Gradualmente, alguns grupos de activistas assumiram que aquele é que era a grande causa da sua luta, pois, fora de África, nenhum negro estaria realmente livre. Na impossibilidade de um regresso físico imediato, camadas pobres de negros, da zona oeste da capital jamaicana começaram a promover a ideia de regresso espiritual. Isto por volta dos anos 30. Faziam-se então tentativas de recriação da vida cultural e religiosa herdadas de África. Na religião, por exemplo, espalhou-se o pensamento segundo o qual os negros eram os verdadeiros e originais israelitas, sendo a África a terra prometida. Mas, uma vez que até aquela altura apenas a Etiópia estava independente em África, os grupos africanistas, na Jamaica, viam na Etiópia e no seu Chefe de Estado as imagens da Palestina e de Moisés . Hailé Selassié ( na imagem), o imperador etiópe, ou RAS TAFARI, era tido como "um enviado de Deus" com a missão de conduzir todos os negros e volta à sua Terra prometida : a África. Aliás, alguns autores consideram mesmo, hoje, que o surgimento do movimento RASTAFARI pode ser oficialmente marcado em função da coroação de Hailé Selassie, ocorrida em 1930.
O primeiro rasta
O primeiro Rasta de que os registos escritos nos falam é LEONARD HOWELL. Leonard HOwel, um pregador da corte Jamaicana, preparou em 1933 alguns princípios pelos quais se devia guiar o movimento RASTAFARI. O pensamento de Howelln assentava na ideia segundo a qual se devia preparar com urgência o regresso dos negros à Africa e o reconhecimento de Hailé Selassié como chefe supremo do povo africano. Em 1948, Sam Brown, um activista RASTA, modificou e ampliou os mandamento propostos por Leonard Howell. Entre outros, Brown afirmava que:

  • os rasta são basicamente vegetarianos;
  • dentro do movimento, os membros deviam adorar não a Deus, mas a Ras Tafari, o rei Hailé Selassié.

Mais tarde, outros Rasta acrescentaram outros mandamentos, de entre os quais se destacam:

  • a abstenção do alcoól;
  • a utilização de temperos e outras especarias em vez do sal;
  • proibição do aborto e da utilização de anticonceptivo;
  • abstenção sexual durante a menstruação.
( CONTINUA)

sábado, 25 de outubro de 2008

EMISSOES REGIONAIS E AS BOLSAS LINGUÍSTICAS

Nas jornadas de Linguística de 2001 ( actualmente designadas por Jornadas de Radiodifusao), evento académico-científico que é organizado pela Rádio Moçambique por ocasião do seu aniversario ( 2 de Outubro), apresentei o resultado de um estudo que fiz no ano 2000. O estudo em causa visava compreender os contornos de uma ideia e uma experiência relacionadas com a realização e transmissão simultâneas de um programa de rádio, em línguas moçambicanas, por equipas em províncias diferentes.
Muito recentemente ( 2000/1) a Rádio Moçambique concluiu a montagem(renovação) de emissores de 50 KW em onda média naquelas províncias com emissões provinciais próprias. Do ponto de vista teórico, não há como recusar a ideia de que as emissões da Rádio Moçambique, no seu conjunto, cobrem todo o território nacional. Porém, se o todo está coberto, não e forçoso que todas as partes estejam devidamente e igualmente cobertas. E isto remete-nos para a natureza do todo:
a) todo quantitativo: disponibilidade geográfica do sinal áudio e como ele é recebido;
b)todo qualitativo: é o conteúdo ( programação e línguas transmitidas).
Pressupostos
  • a realidade etno-linguística e a divisão administrativa de Moçambique não são conscidentes;
  • a distribuição das línguas moçambicanas por cada um dos Emissores(delegações) Provinciais nem sempre conscide com a realidade etno-linguística de cada uma dessas mesmas províncias;
  • a estrutura administrativa da Rádio Moçambique está concebida em função da divisão administrativa estatal

Problemas

Que tratamento devem os decisores da Rádio Moçambique conferir à situações:

a) em que apesar de um determinado emissor provincial transmitir em certa língua, comunidades residentes nessa província e falantes de tal língua não conseguem sintonizar o sinal desse mesmo emissor provincial?

b)em que uma ou mais línguas moçambicanas, sendo faladas nativamente numa certa província, não são contudo utilizadas no respectivo emissor provincial?

Metodologia

Como já indicamos, as nossas atenções gravitarão em redor de duas questões. Qualquer uma delas está relacionada com a dificuldade de uma determinada comunidade etno-linguística geograficamente localizada ter acesso a uma emissão de um canal provincial a Rádio Moçambique.

Começaremos por caracterizar genericamente, com a profundidade conveniente, cada caso. Em seguida procuraremos confirmar as ocorrências isolando uma manifestação concreta de cada caso, dentro de um espaço geo-linguístico determinado. Aqui faremos uso de diferentes métodos, de entre os quais, entrevistas, observação directa, etc. O trabalho de campo para confirmar os dados foi realizado no troço compreendido entre a cidade de Nampula (província do mesmo nome- Norte de Moçambique) e a de Pemba (capital da província de Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique), nos distritos de Namialo, Namapa e Chiúre.

Importa referir que em algum momento procuraremos localizar/identificar as línguas que são faladas nativamente em cada província. Depois, de um tal universo, extrairemos aquelas que sao utilizadas nos respectivos emissores provinciais. As restantes línguas é que serão objecto de tratamento. Esta é uma premissa fundamental no esquadrinhamento do âmbito deste trabalho.

Hipóteses

Para os casos de comunidades sem acesso ao sinal do seu emissor provincial, mas com possibilidades de sintonizar outros emissores provinciais vizinhos que transmitam em línguas ali inteligíveis, o ideal seria estabelecer programas interprovinciais, transmitidos em simultâneo nos emissores envolvidos, de forma que tal comunidade possa ter acesso a alguns conteúdos transmitidos a partir do seu emissor provincial e na sua variante habitual, mas sintonizando com boa qualidade um outro emissor provincial próximo. Similarmente, uma língua não utilizada num determinado Emissor Provincial, pode integrar um programa interprovincial com transmissão num emissor provincial próximo e sintonizável na região da referida comunidade. (continua)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

RASTAFARI


Num intervalo de 2 meses duas notícias sobre Bob Marley ocuparam as manchetes dos jornais. Num primeiro caso, na Jamaica, terra natal do cantor, uma comissão especializada decidiu não atribuir ao ídolo da musica jamaicana, Bob Marley, o titulo póstumo de herói nacional. Num pais europeu, que pouco nos habituou a paixões por este tipo de musica ( Croácia, salvo erro) uma comunidade decidiu erguer uma estátua ao finando. Qualquer um destes actos apenas revela a grandeza de Bob Marley. Quer se goste dele ou não. Quer se aprecie ou não a musica do estilo reggae que ele simboliza. E por via disso, o rastafarianismo, a filosofia de vida que e adoptada pelos seguidores de Bob Marley.
A propósito de tudo isso, fica aqui um texto que terei publicado nos meados dos anos 90 enquanto colaborador da pagina cultural do jornal Notícias, o " Xipalapala" ( uma abraço ao Marcelo Panguana, com quem trabalhei nesse projecto).
Quando nos recordamos hoje do Bob Marley, vem-nos à memória, imediatamente, a imagem de um cantor cheio de talento e de audácia. Um cantor muito popular, cultor do ritmo reggae.
Bob Marley singularizou-se pela desenvoltura com que cantava, pela forma envolvente e íntima como abordava temas e partia num grito de denúncia, sem rancor, para a condenação. De resto, hoje não se discute o vanguardismo de Bob Marley.
Estas, no entanto, não eram as únicas características que o identificavam . havia ainda a cabeleira espessa e trançada que até à sua morte sempre exibiu e, por outro lado, o polémico hábito de fumar marijuana, mesmo em lugares públicos. Por entre uma e outra, o finado justificava-se dizendo-se rasta
Mas afinal, quem são os rasta? Onde e quando surgiram? Quem lhe mandou trançar o cabelo, fumar marijuana e adorar certas cores ( verde, amarelo, preto e vermelho)?(continua)