sábado, 11 de outubro de 2008

xiquelenes-mambas-cidadania


Os Mambas ( selecção nacional de futebol de Moçambique) jogam esta tarde contra a selecção do Botswana. Uma partida que pode abrir as portas à nossa selecção aos próximos mundial e CAN, em 2010.

E como sempre que a nossa selecção joga, a periferia de Maputo ferve. Passei pelo xiquelene ( um dos maiores mercados informais de Maputo e quiçá de Moçambique) esta manhã e vi bandeiras de Moçambique hasteadas um pouco por todo lado ( algumas bastante antigas). Alguns "chapas" também tinham "hasteadas" bandeiras criando um ar de verdadeira festa.






quinta-feira, 9 de outubro de 2008

13º

O discurso que envolve o 13º salário em Moçambique indica-nos que se trata de um salário que pode ser pago se a situação económica e financeira da empresa ou patrão assim o permitir. A liberdade estende-se também à data de pagamento. Há quem paga em Dezembro. E outros há que o recebem em Janeiro e até em Fevereiro. Acontece que também no final do ano os preços são aumentados, minimizando o impacto e a utilizade de tão especial salário.
No Brasil ( e creio que em muitos outros países) o 13º salário está regulamentado. Por exemplo, está estipulado que o mesmo deve ser pago em duas parcelas. A Primeira deve ser paga de Fevereiro até ao último dia de Novembro. A segunda e última deve ser paga em Dezembro.

Não sei quais os fundamentos de tal prática. Nem conheço o mercado brasileiro. Não sei, portanto, como as coisas por lá funcionam e que relação pode haver entre controlo da inflação( especulação) no final do ano e antecipação do pagamento de salário.


Por isso gostaria de colocar as guintes perguntas:
1. O nosso 13º está suficientemente "regulamentado"?
2. Devemos ou não introduzir o pagamento antecipado e/ou não parcelado do mesmo?

FAXINA

No dia de hoje operei algumas mudanças ao visual do blogue. A operação designada faxina apenas iniciou. Conto prosseguir o esforço melhorando o que puder à medida que vou dominando melhor algumas das ferramentas e a técnica de edição.

Conto sempre com a inestimável colaboração e ajuda desinteressada da amiga e colega Zenaida Machado.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A RÁDIO DO SERVIÇO PÚBLICO E A CIDADANIA

(segunda e última parte)

O serviço público de Radiodifusão – O caso da Rádio Moçambique


A prestação do serviço público, na área de conteúdos, é um processo contínuo de diálogo entre diferentes centros nucleares. O primeiro deste domínios é o triângulo Poder constituinte-financiamento-spr. No caso de Moçambique, o principal financiador e o poder que nomeia e gere o spr são uma única entidade, o governo do dia, e sendo ele um actor político bastante interessado e monocolor, acaba dando com uma mão, não se coibindo a outra de cobrar. Ainda que sob forma discreta e táctica. A expressão a “Nossa Rádio”, utilizada muitas vezes como bandeira da universalidade do spr ganha aqui matizes próprias, pois pode significar a “nossa” – propriedade restrita, ou “nossa” pertença colectiva da comunidade. E essa ambiguidade é exaurida ao extremo.

O Segundo e último domínio da gestão dos conteúdos do spr tem num dos extremos o público/Mercado. Os dois outros intervenientes são a alta gestão do spr ( CA ou direcção geral) e os produtores/jornalistas dentro das suas estruturas executivas. As temperaturas dentro deste caldeirão tendem a ser escaldantes.

Claramente aqui é visível que o papel da alta gestão do spr é o maior determinante na equação. Cabe-lhe definir e formatar a melhor maneira de organizar a empresa, através do diálogo com o poder de Estado e político e, no outro extremo, entender-se com o corpo da produção e jornalismo, que, como se sabe, possui códigos e regras muito próprias e muitas delas externas ao poder de gestão.

Sem que Moçambique seja exclusivo nisto e, infelizmente, muitas vezes, temos uma alta gestão do spr incapaz de dialogar, confortavelmente acomodada no poder, ou alternativamente, comportando-se como búfalo numa casa de loiça, arremessando-se doentiamente contra todos e tudo. Para dentro da empresa, reportam-se casos de gestão que se caracterizam por viverem obcecados pelos próprios bolsos e caprichos e, vezes sem conta, enquanto o barco deriva perigosamente nas águas da incerteza, sem rumo, ou muito mal pilotado.

Em qualquer dos casos, o lugar da produção e dos jornalistas é à boca do forno estando em permanente contacto com o público. O que se faz produzindo programas e gerindo programação, que na sua forma estática leva o nome de grelha.


Como formatar uma grelha de interesse para uma rádio generalista com a dimensão da RM?

Nos meus mais de 10 anos em que estive como director de programas da Rádio Moçambique e mais de 15 como gestor e produtor sénior, o aspecto primário mais perturbador é a dificuldade de exercitar metodologias funcionais para uma construção responsável e tecnicamente recomendável da grelha de programas.

As questões de base são: quem participa na elaboração da grelha e como o faz? Quais as referências a usar para construir a grelha?

De acordo com o cronograma geral ou decisões à propósito emanadas pela “ direcção” é comum o produtor/gestor encarregue de formatar a grelha convoca umas reuniões para “ análise e construção” da grelha para o próximo período, solicitando aos outros produtores ideias e propostas de novos programas. Depois seguem-se infindáveis discussões sobre as equipas , horários e “perfis”. E esta “democracia” tem mais a ver com as características de quem dirige o processo e menos com outras coisas. No caso da RM-EP, cuja emissão principal, generalista, é alimentada pelas áreas de informação e programas, a batatada é dentro daquelas áreas, no momento inicial. Seguindo-se o mesmo filme, mas já num confronto habitual entre as duas áreas, sob a mediação do administrador do pelouro. O que resulta deste exercício é levado à aprovação no Conselho de Administração. Sendo que muitas vezes, a grelha não passa de actualização das anteriores em função da correlação de forças e interesses dentro da estrutura da empresa e de alguma soma de competências individuais de quem tem o poder ou pode influência-lo.

Metodologia
Há, certamente, muitas tradições, experiências e visões sobre qual o melhor caminho para construir uma grelha de programas. O que é comum e universal é que a construção de uma grelha é um processo longo. E é longo porque deve envolver as partes interessadas e mais relevantes para os objectivos do spr. E o ponto de partida da grelha é justamente este: mandato do spr.

O mandato do spr pode ser capturado a partir de: a) visão sobre o desenvolvimento e progresso da comunidade; b) contrato-programa; c) estatuto ou carta magna do spr e d) agenda nacional e internacional. Com base neste ou outros elementos de referência seleccionados, deve-se construir os eixos temáticos e programáticos a seguir durante o período da vigência da grelha.

A pesquisa de audiência, a grelha anterior, o conhecimento dos produtores e jornalistas, são o crivo a utilizar (tendo em conta as caracterizações de programas e programação esgrimidas acima) para manusear os temas e transformá-los em programas , produtos de conteúdo e objectivos. Pois, muitos objectivos não se cumprem através de um programa específico. Mas de uma conjugação deles.

Este processo deve ser desencadeado e executado com um forte envolvimento da alta gestão da empresa. O PCA, o director-geral, os administradores e directores, foram nomeados ou concorreram a cargos de uma empresa cujo core business é produzir uma emissão de rádio. E todos eles devem ter conhecimento e capacidade que lhes habilite a participar no processo com qualidade.

O maior e exclusivo envolvimento dos produtores e jornalistas é na transformação dos planos temático e programático em programas: selecção de formatos e produção. Nesta fase, deve haver um “diálogo” lógico entre a construção da grelha/definição da programação e produção de programas, pois a separação destas realidades não tem sido benéfica nem é prático fazê-lo.

Todo este exercício requere uma estruturação da empresa e da área de conteúdos/produção, particularmente, e uma gestão, sabiamente concebidos e conduzidos. As falhas estruturais, deficiências na gestão, canais de comunicação esvaziados, conflitos pessoais, recalcamento, muito comuns em ambientes de radiodifusão, etc, atrapalham e chegam mesmo a inviabilizar resultados prestimosos.

Como vimos inicialmente, o spr não é o brinquedo de estimação dos seus gestores/quadros de produção e jornalistas. A grelha de programas e a programação não devem ser construídos apenas com base na gana e (in)competências dos profissionais. É necessário abrir espaços e criar mecanismos para que a comunidade se interesse e assuma a sua responsabilidade no assunto. Mesmo que não exista formalmente um conselho de opinião, ou que a legislação não obrigue a um debate parlamentar sobre o spr, este ( os seus gestores) devem justificar a sua condição de servidores e cidadãos conscientes. Este forúm ( mesa redonda organizada pela RTC) é um esforço nesse sentido. E foi por isso que a RM, a partir de princípios do ano 2000 passou a realizar jornadas de radiodifusão e linguística abertas ao público, nas quais a sociedade civil e os especialistas da rádio dialogavam sobre a melhor maneira de cumprir o serviço público.

Voltando à grelha, é importante que haja um espaço aberto aos cidadãos. A RM teve em certo momento uma espécie de “ tempo de antena para sociedade civil”, no qual, organizações da sociedade civil, legalmente constituídas, ocupavam 5 minutos com assuntos do seu próprio interesse.

Outro canal que foi experimentado com sucesso é incentivar a co-produção de programas com rádios comunitárias, garantindo assim que assuntos e vozes das comunidades se façam ouvir no canal nacional. Mas não restam dúvidas que a mais visível janela aberta foi a realização de programas ao vivo nas comunidades e com transmissão directa no canal nacional.


O papel das emissoras provinciais na construção de uma programação
diversificada.

As emissoras provinciais da RM são um prolongamento orgânico. Quer dizer são “extensão” e são o próprio “corpo” simultâneamente. Por essa razão, a programação de uma emissora como a Rádio Moçambique, constituída por 15 canais, 10 das quais provinciais, é algo verdadeiramente colossal pois deve viver com base num fluxo continuo de dois sentidos. É isso exequível? Como a programação central ou nacional encaixa esse manancial?

Começamos por indicar que as dez emissoras provinciais da RM têm cada uma a sua própria programação, retransmitindo umas 5 horas diárias a programação central, numa programação multilingue atípica. Quer dizer, se numa programação provincial há 4 períodos de emissão correspondentes a igual número de línguas, cada uma destas programações é diferente da outra. A diferença é estabelecida pela criatividade dos produtores e jornalistas de cada uma das línguas. Assim, programas que existem numa determinada língua, noutras não existem, acabando, ao fim do dia ,dentro da mesma emissora provincial, cada língua radiodifundindo conteúdos diferentes.

A partir daqui fica claro que a programação central deve estar a ser construída sem ter em conta a produção de cada uma das estações provinciais dada a diversidade interna já ilustrada. A minha experiência diz-me que há muitas dificuldades nesse processo. As programações das emissoras provinciais, embora no geral de qualidade baixa, caracterizam-se por uma grande produção diária. Fica claro que muito pouco dessa grande produção de cada uma das 10 emissoras provinciais é aproveitada na programação central ou nacional. Tanto mais que o próprio canal central ou nacional também se comporta como se de uma “supra-província” se tratasse, gerando uma quantidade apreciável de material próprio.

Acredito pois que o caminho vai-nos nos conduzir a uma reformulação da política das retransmissões. Suspeito ainda que os princípios economicistas vão prevalecer, impondo a minimização de custos e a maximização de proveitos, o que quererá dizer, centralizar a produção, reestruturar a filosofia de retransmissões e aumentar o reaproveitamento da produção, padronizando a produção diária de cada uma das estações provinciais. É o que acontece, por exemplo, no âmbito da produção informativa, onde a diversidade é regrada e menos caótica, tornando rentável a existência das emissoras provinciais.