sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

MAPIKO







Mapiko é o nome do "teatro" da Associação Cultural "Casa Velha". O Mapiko foi construído por trás do edifício principal da "casa velha", no espaço contíguo ao INDE ( instituto Nacional de Desenvolvimento da Educação) e Campus central da Universidade Pedagógica, na zona da Polana. Antes, no mesmo sítio, havia árvores de fruta. O teatro Mapiko, como se sabe, é o primeiro e único teatro a céu aberto construído de raiz no país depois da independência. O nome Mapiko foi "roubado" à dança emblemática do povo Makonde, intrépido povo guerreiro e de artes. os makonde habitam nativamente a zona planáltica de Cabo Delgado, norte de Moçambique.
O teatro Mapiko foi um dos epicentro da explosão de teatro verificada no país nos finais da década de oitenta e princípios da de 90. Foi no palco do Mapiko que a "casa velha" brindou o público de Maputo com inesquecíveis performances do "curandeiro a força" (adaptado de Moliere), "três pretendentes, um marido" ( oyono Mbyia), "antigona" ( Sófocles) de entre outras peças maravilhosas.
No Mapiko nasceram e fizeram-se estrelas actores, músicos,coreógrafos, dançarinos, técnicos de cenografia, ilunimotecnia,gestores de cultura, etc.
O mapiko desperta em muita gente saudades. Lembranças inolvidáveis. Histórias que sempre apetece reviver e contar. E chorar de emoção sempre que se evoca tal passado. O mapiko faz parte da vida de muita gente.
ps:
Amigo Lúcio ( lema), estamos juntos no resgatar da mística da Casa Velha e de todas as boas memórias.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A ARMADILHA DA POBREZA ou a autarquia do xiquelene







Xiquelene é o nome que leva o mercado grudado à praça dos combatentes, cidade de Maputo, bem no (!) fim da avenida julius nyerere, no enfiamento da avenida das FPLM. Xiquelene significa (próximo ou onde há) buraco. Um buraco enorme( resultante de extracção industrial de areia). E na zona há muitos buracos. Agora a servirem de postos avançados da lixeira do Hulene. Essa zona está literalmente lixeirada.

Para variar, o coração da avenida julius nyerere deve estar a morrer de vergonha lá no seu íntimo. Não é que a mesma num extremo ( sul) acolhe os mais ricos restaurantes do país, atravessando também bairros correspondentes. No extremo norte ( xiquelene e companhia) afirma-se as maiores desgraças que a um ser humano pode calhar: pobreza e irrelevância.

Pois bem, o xiquelene é um mercado incrivelmente grande. Incrivelmente importante na vida económica, social e financeira da cidade.

  • Só a baixa da cidade bate o xiquelene na concentração de bancos por quilómetro quadrado: o BIM, tem lá um balcão; a socremo; o icb e mais recentemente o banco procredit.

  • as secções de ferragens, madeira e graos do mercado xiquelene são abastecidos continuamente por abarrotados camiões cavalos;

  • a terminal de chapas do xiquelene só pode ser suplantada pela do Museu e Victoria, na cidade de Maputo;

  • grande parte dos jovens recém-formados vive a norte do Xiquelene , nos bairros novos de Ferroviário, CmC , Laulane, Albasine,Militar, guava, habel Jafar etc, o que origina um trânsito impressionante, sem fim de semana..

Entretanto, no xiquelene não há casa de banho pública; não há agua canalizada; não há lugar com higiene para as milhares e milhares de pessoas que passam por ali comerem e lavarem as mãos. E pior, o mais grave, o país empobrece ali, ajoelha-se e desmobiliza-se. Uma parte substancial do dinheiro produzido no país é todos os dias destruido ali. Eu pelo menos, tenho a certeza de estar a gastar muito dinheiro, partindo o meu carro todos os dias no Xiquelene. Os machimbombos dos ministérios também. Os carros dos polícias. Dos ricos que vão às quintas, machambas e curandeiros em Marracuene, idem. Os novos machimbombos dos TPM, quebram-se ali. Será que não dá para ver isso? Doí muito. e chateia também. E aquele pessoal que vende ou "está" ali no Xiquelene funciona como autarquia: tem regras e esquemas próprios. Olha os outros com raiva. Insulta e exulta de alegria quando um carro do estado esmaga-se num buraco nas águas cheias de matope. tapa os buracos sozinho. Equaciona engenharias para drenar as águas sujas. Montou sistemas próprios de alimentação e água. Manieta a Polícia esfomeada cujo posto está no coração do Xiquelene. Exerce a cidadania com muita dignidade. Enquanto não surge um novo 5 de Fevereiro...

Amosse, Modaskavalu e o marginal da marginal




Numa das postagens de Dezembro reportei sobre a marginal da cidade de Maputo e os desenhos que alguém teima em colar em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros. O amigo Amosse, em comentários, trouxe informação adicional bastante preciosa. Ilucidativa. Com a devida permissão, deixo aqui o past e copy do comentário.
Meu caro, ja tive o mesmo questionamento que o seu, e para mata-lo tive que fingir estar a pescar exactamente naquele lugar durante bons dias, ate que descobri que quem escreve e posta os mesmos, 'e um indigente, que fica deitado, mesmo ao lado dos seus escritos. na verdade, tenho a impressao que ele guarnece o "seu mural". a ideia de desabafos a mim tambem me ocorreu, porem, venceu mais o da frustracao, porque aquele, nao me parece de todo louco. e se for o ilustre a prestar a devida atencao, vai encontrar em alguns escritos, verdadeiras parabolas, de alguem que ate viajou pelo mundo. (em algum escrito, acabaei me apercebendo que o tipo era casado com uma europeia caucasiana), agora o motivo da frustracao? confesso-te que nao sei, a motivacao para escrever?penso que 'e de que nao quer partilhar o dialago, senao, dizer as coisas somente.
Muito obrigado amigo amosse macamo, editor de um blog peculiar, bastante interessante mesmo, dedicado à música moçambicana. Recomendo pois que visite o www.modaskavalu.blogspot.com

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

scala:truz-truz







O cine-scala, na baixa da cidade de Maputo, é por demais conhecido. É uma sala de projecção de cinema. Que também acolhe o cine-clube.Funciona no mesmo local a promédia. As circunstâncias fizeram do local um marco cultural giro. Incontornável. Porém, nos últimos tempos, andava ali uma pouca vergonha. O café no andar térreo havia dado lugar a uma porquice sem igual ( aliás, comparável a do prédio pott ali ao lado). Há umas semanas, supreendi-me maningue. Há por ali obras. Limpou-se a trampa toda e toc-toc toda a hora.
Como não vi nenhuma placa a explicar de que obra se trata, lá me arranjei e ajeitei, engraxando o sapato. Sem cerimónias, comentei para o engraxador:
eu: finalmente, vocês as pessoas que fazem negócios na esquina deixarão de sentir o cheiro ( apontando as obras)...
o engraxador: hã...o cheiro já acabou... passamos mal aqui. Os marginais vinham cagar,mijar e dormir aqui.
eu: e estão a fazer o quê?
engraxador: vão fazer três lojas. Scala ( o café, presumo), loja de roupa e outra que não sei.
Calei-me. no fim paguei 10 meticais e fui-me embora.

1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000

Às 22h08 de hoje, 13 de janeiro de 2009, o contador de visitantes marcou 1000. 1000 amigos tenho. 1000 amigos somos. E a tão magrinheza do quase gordo número é o prémio da preguiça. Mas dá para festejar, a carência evidente. E resolvi revolver o passadinho. E trago-vos o meu compromisso. Assumido num primeiro texto no dia 4 de Setembro, do tão longícuo 2008.
Neste blog não tenho um alvo específico. Falarei de tudo um pouco. Muitos comentários, devaneios. Mas, principalmente, e de forma apaixonada, vou trazer as minhas constatações, fruto de observação do dia a dia. Vou trazer a imagem do que os meus olhos vêem e os sons que os meus ouvidos ouvem na rua, nos mercados. Vou partilhar as minhas experiências enquanto agente e sujeito social.Na excitante condição, como está na moda agora dizer-se, de parte da base. À paisana, como nasci e existo.Trarei também alguns artigos que fui escrevendo enquanto palestrante ( ou workshopista militante) e colaborador de alguma imprensa nos finais da década 80 e durante a seguinte.Assim colocadas as coisas, está claro o meu desejo de andar para o futuro de mãos dadas com o passado.Ou seja, viverei também de esgaravatar a minha memória danjaquiana, o meu CV, recuperando coisas do meu passado, um pouco para cumprimentar amigos e acontecimentos que não faz mal recordar e partilhar.E mesmo no finzinho, trarei, sempre que possível, algumas reflesons. Assim mesmo com s, pois o Machado, a quem peço emprestado o termo,assim mo deu a conhecer.Pois, por mais que não tente, a veia de radiofóno sempre se desesconde.Chamo-me António Miguel Ndapassoa. Para todos os efeitos.
PS:
Retomarei a publicação das reflexões muito em breve. Tenho também pendentes respostas a comentários ( do lúcio, amosse, sara, pota). Já sensibilizei alguns amigos para melhorias gráficas ao blog. Devo também algumas retribuições ( maarts; filipa) a amigos cibernautas que confiaram no blog e viram nele uma janela aberta para o nosso país.

domingo, 11 de janeiro de 2009

OLÁ VIDA







Em 2008, profissionalmente, deu-me mais gozo o programa "olá vida". Uma parceria entre o Pepfar ( iniciativa do presidente dos EU contra a sida) e a RM-EP. Aconteceu durante 8 meses seguidos, de Abril a Dezembro, ancorado nas delegações provinciais e Antena Nacional da Rádio Moçambique . Envolveu centenas e centenas de jovens em todo o país. foi uma verdadeira lição aos especialistas de saúde e de comunicação social . O programa consistia num desafio mensal lançado em todo o país. O desafio estava ligado a acções de luta contra a sida e pela vida.Assim, todos os meses, 44 jovens, 4 em cada província ( mais cidade de Maputo) lutavam por salvar o maior número possível de vidas, realizar o maior número possível de testes de hiv, reenquadrar o maior número possível de pessoas afastadas dos seus locais de residência, trabalho ou escola por causa do hiv-sida, etc, etc.

Em Setembro e Dezembro realizei nesse âmbito uma acção inovadora. Decidi afastar-me ainda mais dos clichés comunicacionais sobre hiv e fazer algo que também desse muito gozo. Surgiu assim o primeiro MISS FADM ( Forças Armadas de Defesa de Moçambique) no quartel do comando do exército, em Maputo. Em Setembro. Para Em Dezembro, precisamente no dia 1 , acontecer o MISS PRM( Polícia da República de Moçambique) nas instalações da ACIPOL ( academia de Ciências Policiais).

O meu muito obrigado a todas essas centenas de jovens. Aos colegas da Produção e técnica dos Emissores Provinciais e sede da Rádio Moçambique, do Ministério da Saúde, do Monaso; do cncs; da Jonhs Hopkins; aos membros do juri e outras muitas boas almas anónimas.E ao pessoal da Embaixada americana.
A sequência fotográfica que temos retrata a festa do primeiro Dezembro na Acipol. Houve futebol, Miss PRM ( que aparece na foto); música, dança, concurso e um almoço oferecido pelo PSI... e o Ministro do Interior participou também na emissão especial feita no local e transmitida na Antena Nacional da Rádio Moçambique.

ATÉ SEMPRE 2008


Duas semanas depois de iniciar o ano 2009, eis que me faço presente. Para também desejar muitos sucessos e saúde aos homens e mulheres de bem.

A minha última postagem data de 23/24 de Dezembro. DE lá à esta parte as crónicas rezam que a chuva tem castigado "intermitentemente" a nossa terra. Terra de caju e canhu . Repare-se que num certo "contexto" quando se fala de "caju", "canhu", está-se a falar da respectiva "beberagem". Muito apreciada. Não fosse esta a época de produção e consumo considerável das ditas "branquinhas". Falando nisso, não se lembra alguém da fauna "empreendedora" de montar uma frabriqueta para engarrafar e comercializar tais produtos tipo "canhu, caju, sura" etc?

As festas também já nos habituaram a cenas tristes como a que a foto das bichas desorganizadas de refresco e cerveja nos mostra. Isso apesar das despoduradas promessas de existência garantida de "stock" mas que para o povo nunca é suficiente. Estranho, não é?