quarta-feira, 22 de julho de 2009

HISTÓRIA DA ELECTRIFICAÇÃO DE NIASSA

Nos últimos meses andei empenhado em concluir um livro sobre Electrecidade. Mais concretamente, sobre a história da electrificação de Niassa. Foi uma viagem sem igual. Deixo-vos a capa, umas linhas do autor e outras tantas minhas, na qualidade de editor e organizador.
O livro, o autor e o leitor

O livro
O livro resulta da transformação de um trabalho de pesquisa, com o qual o autor participou num concurso interno da empresa EDM – EP.

Percorrendo a brochura que deu origem ao livro, ficou-me claro que o autor cavou com desnudado gosto e prazer histórias de pessoas e de vivências, de tal sorte que o objectivo enunciado, o de recolher e sistematizar a memória dos caminhos e datas que a energia eléctrica percorreu no território da Província de Niassa, se insinuava apenas como intenção motora, pois, e irredutivelmente, é a história das pessoas que o autor teima em capturar e não consegue deixar de escrever. São os homens que sulcam as montanhas e os vales. São eles que espetam postes e fazem deslizar os cabos condutores. É a adrenalina e a intrepidez dos técnicos que faz a luz iluminar. É uma tensão que se estabelece entre a riqueza e o protagonismo da acção humana e a consciência de localizar no tempo e espaço os mecanismos e instrumentos relacionados com a produção, distribuição e gestão da energia eléctrica.

O título
Deste modo, a fixação do título transformou-se num novo espaço de rediscussão e assumpção da abordagem da obra. Por exemplo, estava claro que o mote do livro eram os sistemas de geração de energia. À medida que o livro ia ganhado forma, anunciava-se, porém, com maior nitidez, a presença em primeiro lugar de uma história humana. E, em segundo, um alargamento do âmbito de “centrais térmicas” para “electrificação da Província de Niassa”, abarcando-se e publicando-se todas tais dimensões e matizes no título.

O conteúdo
É a história da electrificação de cada um dos distritos da Província de Niassa. E da cidade de Lichinga. Exumando-se memórias de como começou a electrificação em cada local. Depois faz-se uma descrição cronológica dos eventos até aos dias de hoje. Foi uma pesquisa demorada e penosa (rebuscando imagens fotográficas e dados que o tempo teimava em esconder); o cruzamento de trabalho de campo e horas de consultas a documentos, muitas vezes, manejando dados não reconciliáveis, outras vezes, absolutamente contraditórios. Há referências históricas que são fixadas com diferenças de décadas e, até, às vezes, com variação de lugar de ocorrência. Em tais casos, a decisão tomada é sempre um risco. Mas tomada com serenidade e toda a responsabilidade. O que é certo é que outros autores ajudarão a construir uma história mais exacta. Corrigindo-se imprecisões e percalços involuntários, afinal, a pesquisa apenas iniciou.

O leitor
Aos técnicos da área da electricidade o livro será muito útil. Os gestores e decisores políticos poderão aqui rever-se para melhor aquilatar o futuro. Os estudantes e interessados pela de electricidade e história do crescimento de cidades e vilas do Niassa encontrarão nesta obra muitos dados de referência.
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E, para a EDM – EP, um certo desafio terá sido já, certamente, abraçado: o de estender esta abordagem de resgate da história às outras províncias e eventos ligados à área. E editar mais livros. À EDM – EP, pela confiança, agradeço. Ao autor, dr. Rodrigues Laidone, pela perseverança, um abraço de muita solidariedade.

António Miguel Ndapassoa (editor)
Breve nota introdutória

A história da descoberta do fenómeno de electricidade remonta da antiga civilização grega. Assim, o termo electricidade provém do grego "ambar". Conta-se que o fenómeno ocorreu pela primeira vez com Tales Mileto que ao experimentar várias vezes, e repetidamente, a fricção do ambar terá descoberto esse fenómeno.

Depois desta descoberta passaram muitos séculos, até que o processo da geração e manuseio da electricidade fosse suficientemente conhecido e controlado. Só assim a sua utilidade conquistou a alma da Humanidade, despoletando uma verdadeira revolução histórica e universal. Nesse desiderato, cujo marco se pode situar no século XVI, avultam os nomes de cientistas como William Gilbert, Otto Von Guerike, Benjamim Frankly, Georg Simon, Alessandro Volta. Resultaram daí abordagens mais firmes no domínio da electricidade, na forma estática e na forma corrente que, por sua vez, transportou-nos para a era do pleno desenvolvimento económico e industrial iniciado no século XIX.

A energia eléctrica está recheada de múltiplas vantagens, uma delas é a invocada iluminação de lugares públicos e residências, para além das fábricas, grandes complexos industriais, minas e outras unidades económicas que laboram com a energia. Aliás, é difícil imaginar, na contemporaneidade, a vida sem este recurso. Basta um simples corte de corrente eléctrica para colapsar a cadeia de sistemas e eventos que é a sociedade e complicar a vida de milhares e milhares de pessoas.

Antes da Independência Nacional, em Moçambique, e muito em particular em Niassa, a electrificação era assegurada pelas câmaras municipais, pois a estas tinham sido adjudicadas os Serviços de Exploração de Energia, e que asseguravam todo um conjunto de processos. Nos locais onde não existia este corpo administrativo eram as administrações coloniais que mantinham esta actividade.

A câmara municipal era monitorada pelos Serviços Autónomos de Electricidade de Moçambique, que possuía a sua sede em Lourenço Marques, actual Maputo. Para questões técnicas existia a COMEL (Consórcio de Máquinas e Electricidade) que, para além de se responsabilizar pelas reparações, era agente dos grupos geradores, como a Deutz.

Niassa começa a ser electrificado a partir de 1935 através de uma central a lenha. Depois passou para uma central a diesel, e mais tarde por uma cadeia de processos e dificuldades enormes até ser ligado à rede nacional de energia em Julho de 2005. Em Cuamba existia a Comissão Municipal do Amaramba que desempenhava esta actividade. Nos restantes distritos, não havendo um corpo Administrativo, as administrações é que vinham desempenhando esta função.

Conhecer, descrever e partilhar todo esse longo processo de produzir e distribuir energia foi e é o meu grande objectivo. A obra não esta concluída. O que mais me motivou era começar. E dizer. é possível.
Rodrigues Laidone ( autor)

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostaria de poder ler o livro entero. Espero que em pouco tempo seja possivel encontrar em varios e diversos pontos geograficos.