segunda-feira, 16 de março de 2009

PAIS ESFERICO, AZUL E PASMOSO




Ha uns pares de anos, um velho e distinto amigo, de parodias e artes, o Jaime Santos, telefona a solicitar-me um texto de apresentação de um livro de um amigo que também há-de ser teu. O Stelio Inácio, Faço o texto e faço-me ao lançamento. Simpatizei-me com tudo: o desespero do Jaime; A expectativa do estreante Stelio.



Desde então tenho velado o texto, sempre com receio de vê-lo partir. E então que resolvo mandar um email ao Stelio. Ele manda-me as fotos. E eu aqui a publicar tudo isso. Boa fruição.


O meu País é esférico, azul e pasmoso

A ideia é apresentar a obra. O livro, neste caso. Muito obrigado pela deferência e parabéns ao autor.

O livro é uma colecção de 57 poemas. Todos sonetos. No geral, os textos são escritos dentro de um rigor notável. O género é cultivado em toda a sua plenitude. Até às últimas consequências. Como disse, o autor optou pelos sonetos. Na sua forma mais clássica, portanto, mais formalista. Se quisermos, podemos também questionar, porquê escolher sonetos? Que relação um jovem esgrime com um género tão cultivado? Porquê não atende ele ao apelo da inovação, ou porquê não nos oferece um texto, como diz Barthes, para fruição, e fica-se pelo prazer?

Bem, creio que mesmo assim a opção foi feliz. O autor mostrou que controla o género. Controla e domina a domina a técnica do soneto. Podemos notar isso na forma fácil e bela como o verbo flui. Como as rimas são tratadas, com respeito religioso. E até a métrica o Stelio afagou com muito desvelo. Também não traiu a tribo na temática. Afinou pelo amor. Um amor por realizar. Nos poemas, há sofrimento. Há dor. Há esperança. Como na sua forma original, aqui nos sonetos há muita paixão, muitos suspiros poéticos. E muita humanidade e fraternidade.

Quer dizer, e por tudo isso, posso afirmar que esta obra já não é só orgasmo incontido. É cópula consentida. Não é aquilo precoce. É uma cavalgada em modo de trote. É algo sentido e pensado. Elaborado com maturidade e segurança. É forma e conteúdo bem casados.

E notamos isso a partir do título: O meu país é esférico, azul e pasmoso. Stélio: quem te mandou escrever um título tão comprido assim? Tão exigente, inesperado e , se calhar, por isso mesmo, belo.

Este título é uma referência ao mundo-planeta, uma visão mais ampla do conceito de País. Aqui, País, deve ser visto como lugar afectivo, onde se nasce. E segundo os astronautas e os donos dos satélites,de facto este mundo é azul e esférico. E o pasmoso é uma inspiração.Alinha com o belo e harmonioso dos semas País, esférico e azul.

Olhemos agora para os poemas. Não precisaremos de apresentar um a um. É para isso que o livro está à venda. Que é para lerem-no com ao vossos próprias olhos e bocas.

Escolhi um poema representativo. O poema cujo título é o título do livro. Esse poema remete para um desejo e uma relação próxima com um mundo ideal, embora sentido, harmonioso. Um cenário quase bíblico. Aqui visível nas palavras “nobre vida/reino belo/”.
Fora o aspecto essencialmente físico do u universo, que é a relação entre os corpos celestes, aqui Terra e Sol, o autor remete-nos para uma segunda instância do seu âmbito de interesse: a Humanidade, olhada do seu lado mais bíblico e harmonioso- o parentesco numeroso. Aliás, abundante, pois os homens, do ponto de vista numérico, é algo inerte. Já o abundante tem mais a ver com a criação, com o que se desenvolve saudavelmente. Que tem, portanto, vida. E mais do que vida, o Homem é um ser fascinante. E, como se sabe, todo o seu humano fascinante é também fraterno. Talvez por isso mesmo.

Quero crer que a essência do discurso e da construção do texto, neste livro, está irremediavelmente amarrada a esta visão do homem: do fascínio e da fraternidade, acto de amar e ser amadao, de respeitar e ser respeitado. Concentrado, porém, na figura da mulher. Aliás, como um bom e paradigmático “escritor” de poemas de amor, romântico, Stélio vive apaixonado e fascinado por uma certa relação por acontecer. Todos os poemas flutuam entre duas histórias: uma de amor, um grito de paixão, desejo e angústia. E uma outra, um hino à Humanidade, à beleza e natureza.

E para terminar,como já disse, encontrarão neste livro 57 poemas. O mais recente é datado de 2006. E é o primeiro poema do livro. Depois, por ordem natural, ao contrário, surgem poemas de 2005, 2004 e 2003. Supreendentemente, o último poema é de 2002. O mais antigo texto aqui publicado.
Nota-se também que dos 57 poemas que há neste livro, em 54 o título dos textos é o seu último ou primeiro verso. Outro aspecto notável é o último poema. O tal de 2002. Chama-se soneto 1. Porque terá este título.

Bem, se me permitem, eu termino aqui. O livro está aí. Graficamente aguenta-se. A encadernação também. Leiam-no e se quiserem digam alguma coisa. Sucesso na tua carreira, Stélio.

Meu país é esférico, azul, pasmoso

Meu País é esférico, azul, pasmoso,
Junto ao sol no universo viajante;
Onde a nobre vida se faz reinante,
reino do belo e do maravilhoso

Meu parentesco é assaz numeroso,
Com todo ser vivo ai!tão abundante;
Todo o ser humano, ser fascinante,
Que é um sempre igual porém copioso

Minha bandeira foi por mim pintada
Com as cores que a raça humana toma,
Tendo mil signos pr´a felicidade.

Meu hino é uma canção alongada
Com frases de todo o humano idioma,
E que se traduz em “fraternidade”.


20.01.2005

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