quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A ARMADILHA DA POBREZA ou a autarquia do xiquelene







Xiquelene é o nome que leva o mercado grudado à praça dos combatentes, cidade de Maputo, bem no (!) fim da avenida julius nyerere, no enfiamento da avenida das FPLM. Xiquelene significa (próximo ou onde há) buraco. Um buraco enorme( resultante de extracção industrial de areia). E na zona há muitos buracos. Agora a servirem de postos avançados da lixeira do Hulene. Essa zona está literalmente lixeirada.

Para variar, o coração da avenida julius nyerere deve estar a morrer de vergonha lá no seu íntimo. Não é que a mesma num extremo ( sul) acolhe os mais ricos restaurantes do país, atravessando também bairros correspondentes. No extremo norte ( xiquelene e companhia) afirma-se as maiores desgraças que a um ser humano pode calhar: pobreza e irrelevância.

Pois bem, o xiquelene é um mercado incrivelmente grande. Incrivelmente importante na vida económica, social e financeira da cidade.

  • Só a baixa da cidade bate o xiquelene na concentração de bancos por quilómetro quadrado: o BIM, tem lá um balcão; a socremo; o icb e mais recentemente o banco procredit.

  • as secções de ferragens, madeira e graos do mercado xiquelene são abastecidos continuamente por abarrotados camiões cavalos;

  • a terminal de chapas do xiquelene só pode ser suplantada pela do Museu e Victoria, na cidade de Maputo;

  • grande parte dos jovens recém-formados vive a norte do Xiquelene , nos bairros novos de Ferroviário, CmC , Laulane, Albasine,Militar, guava, habel Jafar etc, o que origina um trânsito impressionante, sem fim de semana..

Entretanto, no xiquelene não há casa de banho pública; não há agua canalizada; não há lugar com higiene para as milhares e milhares de pessoas que passam por ali comerem e lavarem as mãos. E pior, o mais grave, o país empobrece ali, ajoelha-se e desmobiliza-se. Uma parte substancial do dinheiro produzido no país é todos os dias destruido ali. Eu pelo menos, tenho a certeza de estar a gastar muito dinheiro, partindo o meu carro todos os dias no Xiquelene. Os machimbombos dos ministérios também. Os carros dos polícias. Dos ricos que vão às quintas, machambas e curandeiros em Marracuene, idem. Os novos machimbombos dos TPM, quebram-se ali. Será que não dá para ver isso? Doí muito. e chateia também. E aquele pessoal que vende ou "está" ali no Xiquelene funciona como autarquia: tem regras e esquemas próprios. Olha os outros com raiva. Insulta e exulta de alegria quando um carro do estado esmaga-se num buraco nas águas cheias de matope. tapa os buracos sozinho. Equaciona engenharias para drenar as águas sujas. Montou sistemas próprios de alimentação e água. Manieta a Polícia esfomeada cujo posto está no coração do Xiquelene. Exerce a cidadania com muita dignidade. Enquanto não surge um novo 5 de Fevereiro...

2 comentários:

Anónimo disse...

Infelizmente os nossos impostos cada vez mais servem para sustentar a classe política e cada vez menos servem para prestar ao cidadão contribuinte os direitos de cidadania a que tem direito.
Um abraço

amosse macamo disse...

Dói mesmo amigo Ndapassoa, dói.
E pensar que só do que se colecta no Xiquelene é suficiente para mudar e muito o triste cenário que ali se vive.
O questionamento ante a passividade é de saber a quem beneficia esta situação? Quem colhe com igual estado de degradação?
O que falta para ver com olhos de ver o que está realmente a acontecer ali?
Um amigo meem extremista dizia que o corte da Julius Nyerere, foi propositado para esconder aquela degradação. Será que serei obrigado a acreditar nele?
Urge mexer com Xiquelene, até porque as campanhas de cólera e quejando, perdem sentido ali….
Muito feliz a sua postagem e pertinente
P.S. e não passam dali os ricos quando vão as quintas e consultas de curandeiros?